O QUE DE FATO REPRESENTA CADA VALOR NOS ATRIBUTOS DE D&D?
No já extinto (porém ainda
jogado) AD&D, havia uma tabela,
em um livro de Ravenloft, com o valor de
cada atributo e o que ele representava de fato. O mundo mudou, décadas se
passaram, mas a pergunta ainda é frequente: o quão alto é o atributo com o valor 15, digamos. Ou o quão baixo é um
atributo com valor 8?
Ah, mas porque fazer isso? Bem...
Na divulgação de um #TBT recente sobre Inteligência ser o atributo menos
valorizado pelo sistema da 5ª edição (que você pode ler AQUI), muita gente pareceu não
entender exatamente o que significaria cada valor. Algumas pessoas parecem
interpretar um 8 de uma forma muito ruim, mas dificilmente valorizam um 12 da
mesma forma. Logo, é pertinente que se fale disso.
Em primeiro lugar, é preciso
entender que desde o AD&D
algumas coisas mudaram. Os atributos não passavam de 19 quase nunca, já que eram rolados inicialmente com 3d6, 6
vezes, em ordem e depois a rolagem, ainda no AD&D (primeiro como regra opcional, mas cada vez mais como a regra principal), passou a ser 4d6 (descartando o menor valor) como hoje
(quando não se usa a compra de pontos ou os atributos fixos, que por mais que
não constem como padrão, é como o sistema é pensado). Mesmo
que você conseguisse o tão sonhado 18 na rolagem de dados, as raças básicas
concediam, quando muito, um modificador de +1 em um deles (raramente em dois
deles). Isso significava, normalmente, que você não passava de um 19, afinal,
não havia o aumento de atributo a cada tantos níveis (ou talentos, criados na
3ª edição). O limite humano era 18. Um elfo talvez tivesse Destreza 19. Um anão
poderia ter Constituição 19. Mas era isso. Ao menos sem que algum desejo
entrasse em jogo. Mas não vamos nos estender demais nisso (ou em dizer que
algumas raças como as do cenário de Darksun não só concediam modificadores mais altos
como o cenário sugeria que se começasse no nível 3 e que as rolagens fossem com
6d4, descartando o menor resultado!). Naquela edição, o valor máximo de
atributo era 25. Talvez inspirado nessa ideia de valor máximo que a 5ª edição
resgatou tal teto, já que na 3ª edição o teto foi detonado e passamos a ter
personagens com atributos acima de 30 (com itens mágicos e níveis muito altos,
mas ainda assim).
Pois bem. Muita coisa mudou, não
só por termos saído do AD&D mas
por termos passado pelas edições 3 e 4. O teto foi resgatado, porém com valor
30. No entanto, personagens dos jogadores possuem teto 20, sem que algo diga o
contrário. Logo, simplesmente resgatar a tabela de mais de vinte anos atrás (quase
trinta, estou ficando velho!) não vai resolver nada. Mas ela nos servirá de
base. Quem quiser consulta-la, basta buscar no livro de Ravenloft
de AD&D, Domains of Dread, ou sua versão nacional, Domínios do Medo, a
tabela de número 39.
Mesmo rolando dados, dificilmente
um personagem tem valores abaixo de 3, pois além de muito azar, o jogador terá
que buscar em um suplemento uma raça que dê penalidade (o que é raro e, na
minha modesta opinião, nem deveria acontecer) e colocar o seu número tão
azarado no atributo da penalidade. Ainda assim, por existir essa combinação, consideraremos
isso. Assim como consideraremos os atributos acima de 20. Desta forma, a tabela
irá de 0 a 30.
A TABELA
DESCRIÇÃO DOS VALORES DE ATRIBUTO
|
|
VALOR
DO ATRIBUTO
|
DESCRIÇÃO
GERAL
|
0
|
Não aplicável a personagens – Possivelmente morto
ou quase morto
|
1
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Tão baixo que quase não pode ser medido. Ele está próximo de estar incapacitado
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2
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Abaixo do mínimo da maioria das raças
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3
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Mínimo funcional das raças
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4
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Grandemente debilitado
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5
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Debilitado
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6
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Bem abaixo da média da maioria das raças –
bastante perceptível.
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7
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Abaixo da média da maioria das raças –
razoavelmente perceptível
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8
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Pouco abaixo da média da maioria das raças – não perceptível
sem uma convivência
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9
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Dentro da média da maioria das raças
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10
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Dentro da média da maioria das raças
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11
|
Dentro da média da maioria das raças
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12
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Pouco acima da média da maioria das raças – não perceptível
sem uma convivência
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13
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Acima da média da maioria das raças – razoavelmente
perceptível
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14
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Bem acima da média da maioria das raças –
bastante perceptível
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15
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Entre os melhores do povoado, aldeia ou vilarejo
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16
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Entre os melhores de uma grande cidade
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17
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Entre os melhores da região
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18
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Entre os melhores do reino
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19
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Entre os melhores do continente
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20
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Entre os melhores do mundo
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21
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Acima dos limites da maioria das raças
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22
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No limite dos grandes heróis épicos
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23
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Acima do limite dos grandes heróis épicos
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24
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Ultrapassando com folga o limite dos grandes
heróis épicos
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25
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Se igualando aos lordes abissais, infernais ou
celestiais
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26
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Se igualando as entidades quase divinas
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27
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Se igualando aos semideuses
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28
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Se igualando aos deuses menores
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29
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Se igualando aos deuses
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30
|
Se igualando aos deuses mais poderosos
|
Alguns jogadores tendem a
acreditar que somente personagens com valores de atributo muito altos são
dignos de se jogar. Alguns, por isso, detestam a ideia de não rolar atributos
ou comprar atributos com uma quantidade de pontos acima do que é recomendado no
Livro do Jogador, buscando maximizar seus pontos fortes e minimizar os fracos.
Não sendo assim, se sentem trapaceados
ou podados e tendem a descontar suas frustrações de poder pessoal avacalhando
a aventura ou, no mínimo, xingando muito em sua conta pessoal do twitter ou em
fóruns da internet. Bom. D&D é um jogo que é pensado sim em ser heroico e
épico, mas não só isso e nem sempre. Esse pode ser um bom argumento para
algumas mesas, mas não abrange o escopo completo do jogo.
D&D se trata muito mais de jogar com personagens únicos, com
habilidades e poderes únicos (ou nem tão únicos assim), mas mais que isso, com
características e peculiaridades que os tornem memoráveis. O uso de compra de pontos ou de valores fixos
impede que um personagem tenha atributos muito baixos, que podem frustrar
alguns jogadores de fato. Mas basta olhar para a tabela e verificar que a
maioria das suas habilidades, seja com atributos comprados ou fixos estará acima
da média. Bem acima, na verdade. Afinal, eles não se tornaram aventureiros por
acaso. Mas ainda que em sua mesa os dados sejam rolados, não há porque ficar
tão triste. Na ficção há uma série de
personagens que, se transpostos para o sistema D&D, estariam com um ou mais valores não tão satisfatórios. Na
verdade, alguns deles se tornam mais interessantes exatamente por suas falhas,
seja pela forma como as superam, seja pela forma como se tornam reféns delas na
narrativa e como isso desenvolve a história.
Desta forma, não se preocupe TANTO ASSIM nem com mínimos e máximos, nem com
valores tão altos ou baixos. Tenha certeza que, seja qual for a sua combinação
de atributos, habilidades e poderes, do outro lado da mesa terá um Mestre
calculando a dificuldade dos desafios de acordo com o poder de fogo do grupo.
Ou seja, aqueles seus dois pontos acima da média acabarão apenas trazendo
oponentes que, eventualmente, estarão dentro do limite de funcionarem como
desafio, seja encontrando falhas em sua construção de personagem perfeito, seja
sendo levemente superiores aos que se seria esperado encontrar, compensando
assim seus dois pontos.
Ou seja, no final das contas,
inclusive falando do tal artigo sobre
Inteligência ser o PIOR ATRIBUTO, na verdade ter atributos muito altos não importa TANTO ASSIM. As soluções (válidas e criativas) daquele artigo são para tornar a narrativa mais interessante, dentro dessa falta de equilíbrio entre as utilidades sistêmicas de cada atributo, e não para criar personagens
ainda mais poderosos. Porque, como dito há pouco, isso importa muito pouco na
hora em que a aventura começa.
Esperamos
que tenham gostado dessa análise sobre os valores dos atributos em D&D e
que isso traga boas conversas com seu grupo de jogo!
Bons jogos!