DICAS DA CAROLINA CAPRONI PARA FAZER UM BOM BACKGROUND

Mar de Fogo por Keith Parkinson




Estavam com saudades de odiar os textos da Carol e fazer um HATE nas redes sociais? Ou quem sabe está entre os fãs e vai compartilhar esse texto até chegar na Wizards of the Coast? Então, agora vocês conseguiram!

 

Texto de Carolina Caproni Nogueira

 

Mais uma vez, é com imenso prazer que eu anuncio: se preparem para um texto pequeno!


Ah, sim! Sabia que já escrevemos sobre Prelúdio/Background/Backstory ou como você quiser chamar o que aconteceu com seu bonequinho antes do jogo começar? Veja nossos links no final do texto!



Imagem de Ralph Horsley




DICAS DE COMO FAZER UM BOM BACKGROUND 

(de uma mestre cansada de ler backgrounds)


Depois de muita discussão por aí sobre o background dos personagens em uma mesa de RPG, se ela deve existir, se não deve, se pode ser épica no nível 1 ou não, se tá ok colocar pornô no meio dela com onomatopeias pra gemidos e se deve ter uma linha ou vinte páginas, decidi escrever um texto simples sobre como não cometer erros bobos na hora de criar o BG.


Como de costume, tem resumo no fim pra quem não quer ler tudo.


Vamos começar pelo início:



Invocações Arcanas por Keith Parkinson




Pergunte ao Mestre o Que Ele Quer no Background e Qual a Quantidade de Texto Que Ele Está Disposto a Ler


É muito comum que jogadores iniciantes queiram escrever uma história muito longa pro próprio personagem, e que mestres iniciantes queiram ler backgrounds muito grandes para sentir que os jogadores se interessaram pela campanha.


Também é muito comum que os mestres veteranos tenham se cansado de ler histórias detalhadas sobre como o bárbaro perdeu a família dele e que jogadores veteranos já tenham feito tantas fichas pra tantos jogos que agora só queiram jogar sendo "Kiora, a tiefling guerreira soldado".


O mais importante, sempre, é você alinhar o seu personagem à mesa. Se você tentar jogar sem background numa mesa em que o mestre quer histórias grandes pros personagens, não vai dar certo. Se você escrever vinte páginas pra um mestre que não quer ler tudo isso, ele não vai ler. Se você não desenvolver nenhuma história pra uma mesa de Vampiro, nem criar o personagem você consegue.


Se você criar um background grande pra uma mesa de OSR, meus pêsames.



A Rainha Elfa de Shannara por Keith Parkinson




Então, Depois Disso, Decida um Resumo da Sua História e Fale Dela com o Mestre


Esse é um passo importante que muita gente em mesa minha já pulou, e acabou levando um balde de água fria na cara.


Quando você vai criar uma história dentro do mundo de outra pessoa, você tem que lembrar de uma coisa: O MUNDO É DE OUTRA PESSOA. Você não conhece ele completamente, então tem que ter cuidado.


Se você escrever todo um belo conto sobre como seu pai viveu um romance escondido com a rainha, ou como você era um necromante poderoso que perdeu todos os poderes e agora é nível 1, ou como você foi adotado por lobisomens bonzinhos depois de ser abandonado pela sua mãe, a maior chance é que não dê pra encaixar sua história no jogo e você precise refazer ela inteira.


Quando você conversa antes com o mestre, ou ele já te manda um "não" de cara, ou ele vai te propor algumas mudanças pra encaixar melhor o que você quer no jogo.


Aliás, só um adendo: o cara poderoso que perdeu todas as memórias ou poderes e voltou pro nível 1 é um clássico, não é uma ideia super incrível e original. Ela tá logo ali, depois do cara que teve os pais assassinados e do piromaníaco que foi expulso de onde morava por queimar a cidade.


Outra coisa importante de se falar é que também é nessa parte que se resolve aquela problemática do cara nível 1 que fez background matando um dragão. Isso só é um problema se não for conversado com o mestre. Sendo conversado, talvez caiba no mundo do mestre, no sistema, no cenário e tem várias maneiras diferentes e criativas de se explicar como alguém nível 1, ou até nível 0, antes de ter qualquer habilidade combativa, foi capaz de um feito heroico. Talvez também realmente não caiba no jogo, mas ao menos você já aprende isso antes de começar a se empolgar com a possibilidade.


Continuando...




Imagem de Clyde Caldwell




Lembre de Deixar as Informações Mais Importantes para o Mestre Muito Claras


Se o mestre quer um BG escrito, ele provavelmente quer por um motivo: para usar ele.


Nem sempre é assim, tem uns que prometem usar e ignoram completamente, mas vamos partir do princípio que o mestre em questão tem ao menos a intenção de usar a história que ele te pediu pra fazer... e mestres, se não forem usar o BG dos jogadores, não peçam BG, por favor.


Então, o que você precisa escrever? O mais importante é a motivação do seu personagem. Isso vai ajudar o mestre a te manter na história junto com os outros jogadores, sem precisar de railroad e sem você ter que ficar abrindo mão da interpretação do seu personagem pra jogar o que os outros querem.


Antigamente a motivação dos personagens era mais simples na maioria dos RPGs, eram quase todos aventureiros em busca de ouro e glória. Atualmente essa não é mais a motivação mais comum, e até em D&D é normal achar personagens que queiram algo diferente da simples aventura, e em sistemas mais interpretativos nem se fala.


Quando você deixa a motivação do seu personagem bem clara, você facilita tudo pro mestre. Se eu sei que a Ana, o João e o Mário se motivam por dinheiro e poder, mas o puto do Júlio fez voto de pobreza e só quer ajudar as pessoas, eu sei que vou precisar dar um empurrão a mais nele se quiser que ele se enfie numa missão que envolve roubar algo de uma nobre que não fez mal pra ninguém.


A segunda coisa mais importante de se colocar no background é um pouco da construção do personagem: como você chegou a ser quem é? Isso é particularmente importante se seu personagem tiver uma série de características peculiares, mas não tão importante se ele for algo mais perto do clássico. Um Brujah teimoso que gosta de enfiar soco na cara dos outros provavelmente precisa de menos explicação que um paladino no D&D que pretende pegar multiclasse com bruxo.


E a coisa menos importante no bg, acredite em mim, é diálogos, onomatopeias e contos eróticos. Se quiser escrever essas coisas você pode, mas sugiro que seja um livrinho à parte, fora da história do personagem, e que o mestre só tenha que ler se ele realmente quiser ler.


Dependendo do que escrever, talvez seja até melhor você guardar isso apenas para você, como seu pequeno segredinho, ou no Wattpad, onde estão as pessoas que podem apreciar... essas coisas.


Agora, quase por último mas não menos importante, o que me fez cansar de ler backgrounds:



Imagem de Fred Fields




Escrevam do Jeito Que Vocês Sabem Escrever


Uma das coisas que eu não suporto é pegar o BG das pessoas pra ler e achar um tanto de "a qual" errado, "o cujo" e pontuações estranhas em absolutamente TODA linha escrita.


"Ah, Carolina, mas o ensino no Brasil é ruim, você também errou em sei lá onde nesse texto aqui, você tem que pensar que-"


Não, não tem desculpa. Não é sobre escreverem mal, eu já vi essas pessoas escrevendo outras coisas na vida delas, e elas não escrevem assim. O problema é que, quando vão escrever a história do personagem delas, elas tentam "escrever bonito", começam a usar pontuação que não sabem usar, crase onde não deveriam, conjugação que nunca nem viram se existe e o texto vira uma bagunça.


Não façam isso. Escrevam como vocês sabem escrever, não importa se for de modo completamente coloquial. Não existe nada de errado em textos escritos fora da linguagem acadêmica, só o povo da faculdade é que acha importante escrever nessa linguagem chata, provavelmente por terem sido forçados a aprender ela e agora querem se vingar do resto da humanidade passando esse sofrimento pra frente.


Se quiserem escrever de modo rebuscado mesmo assim, estudem sobre ele antes e comecem aos poucos, talvez tentando primeiro só a pontuação, ou só com um "a qual" aqui e ali, e conferindo se está certo. Um ou outro erro é bem aceitável, mas encher 20 páginas com erro em toda linha pra fazer um texto bonito é comparável a eu tentar começar a aprender piano com Fantaisie-Impromptu de Chopin.


Além disso, leiam o que vocês escreveram antes de mandar pro mestre. Várias vezes já peguei erros grandes que faziam o texto ser ilegível, falei com o jogador, e me responderam com "ah, é que eu só escrevi e não reli depois".


Um texto que não foi relido é um texto incompleto, se nem você leu o que escreveu, o que te faz achar que outra pessoa vai querer ler?



Retorno do Proscrito por Keith Parkinson




E, Por Fim, Faça o Texto Valer a Pena


Lembre que o propósito do bg é dar apoio ao jogo, e é isso que ele deve fazer. Como valor de leitura, provavelmente o seu mestre tem alguns livros que queria muito ler e não tem tempo pra ler, e que seriam mais agradáveis de ler que a história de como seu personagem perdeu os pais e você virou bruxo pra se vingar. Por isso, não fique enrolando muito no bg.


"Absurdo, Carolina! Eu sou um ótimo escritor!"


Ok, você pode ser, mas ainda assim existe diferença entre um livro e um bg. Se o mestre amar seu personagem e você quiser escrever um romance sobre ele depois, dar de presente pro mestre ler e ainda vender algumas cópias na internet, vai em frente. Eu mesma já escrevi um bg de 5 páginas pra um mestre que gostava muito da minha escrita, ele amou ler, depois quis mais, e ao longo da campanha eu escrevi mais 88 páginas de diário da personagem contando sobre as sessões. Ele leu todas.


Eu queria escrever, ele queria ler, então tudo bem. O que importa não é o tamanho do texto, é se ele se adequa ou não à função dele.



Imagem de Eric Olson



Resumo Final (para preguiçosos)


Converse com o mestre sobre o BG que quer fazer e faça dentro dos moldes do que ele está disposto a ler e integrar na mesa, ou você vai ter um mestre entediado e, se tem algo que a escola ensinou, é que forçar alguém a ler o que não quer deixa qualquer texto insuportável.


Se quiser escrever algo além, escreva, e se quiser entregar pra todos da mesa, entregue, se quiser publicar, publique; apenas tenha também um resumo conciso da história do seu personagem para entregar como BG, que não force ninguém a passar por infinitos detalhes do seu personagem para chegar no que importa.


Revise seu texto, não tente escrever de forma rebuscada se não domina esse jeito de escrever.



Imagem de Fred Fields




Resumo do Resumo Final


No background escreva apenas o que o mestre está disposto a ler, o resto você pega e publica onde quiser como um livro à parte.



Imagem de Fred Fields




Resumo do Resumo do Resumo Final


Escreva só o que é importante para dar suporte à narrativa.


Até mais, gente! ❤



Dragão de Gelo por Keith Parkinson




FINALIZANDO



Esperamos que tenham gostado desse texto. Quer ler outros textos da Carol? Você pode ler Como Narrar Terror AQUI!,  Por Que Sua Mesa Flopou? AQUI!, o Modelo Narrativo-Descritivo AQUI! e Demolindo os Pilares do RPG AQUI

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Bons jogos!



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