DRAGONLANCE - O SORRISO DO MINOTAURO: O EPÍLOGO DA NOSSA CAMPANHA DE DRAGONLANCE

 

DRAGONLANCE - O SORRISO DO MINOTAURO

O EPÍLOGO DA NOSSA CAMPANHA DE DRAGONLANCE

 

Shadow of the Dragon Queen - Head Promocional




AS SOMBRAS DE DRAGONLANCE

 

Neste último final de semana terminamos nossa mesa de Dragonlance, que levou os personagens do nível 1 ao 14. Nesta saga, o DM mestrou as aventuras Dragonlance: Shadow of the Dragon Queen e Dragonlance: Shadow of the Black Rose. Essas aventuras ocorrem imediatamente antes do evento mais icônico do cenário: A Guerra da Lança.

 

Pra você que caiu de paraquedas aqui vai um brevíssimo resumo sobre a Guerra da Lança. Se quiserem no futuro um post sobre estes eventos, nos peça através de nossas redes sociais. 

 



 

A Guerra da Lança

 

A Guerra da Lança é um dos eventos mais importantes do cenário de Dragonlance, situado no continente de Ansalon, no mundo de Krynn. Essa guerra épica ocorre quando Takhisis, a Rainha das Trevas, retorna ao mundo após séculos de exílio, determinada a dominá-lo. Para isso, ela reúne um poderoso exército composto por draconianos, criaturas criadas a partir de ovos de dragões corrompidos, além de seguidores leais, como cavaleiros do mal e magos sombrios.

 

Frente a essa ameaça, as diversas raças de Ansalon — humanos, elfos, anões, kenders e outros — precisam superar suas diferenças e formar uma aliança para resistir à invasão. A guerra também é marcada pelo retorno dos Dragões Bons, que inicialmente estavam ausentes devido a uma artimanha de Takhisis, mas são trazidos de volta pelos heróis da história.

 

Os eventos da Guerra da Lança são narrados principalmente na trilogia Crônicas de Dragonlance, escrita por Margaret Weis e Tracy Hickman, e traduzida no Brasil pela Jambô nos volumes "Dragões do Crepúsculo do Outono", "Dragões da Noite do Inverno" e "Dragões do Alvorecer da Primavera". Heróis como Tanis Meio-Elfo, Raistlin e Caramon Majere, Sturm Brightblade e Laurana desempenham papéis centrais na luta contra as forças do mal. Além de batalhas épicas e estratégias militares, a guerra envolve conflitos morais e a redescoberta da fé nos Deuses do Bem, que haviam sido esquecidos após o Cataclismo.

 

No final, a guerra resulta na derrota das forças de Takhisis, graças à união dos povos livres e aos esforços dos heróis, marcando um novo capítulo de esperança para Krynn.

 



 
Lord Soth, Shadow of the Black Rose
Dragonlance nexus – Greenedera art


Voltando a nossa Campanha

 

As aventuras que nós jogamos, citadas acima, ocorrem enquanto exércitos gigantescos se movimentam e começam a fazer suas primeiras investidas. As ações dos personagens podem mudar os rumos da guerra que está para acontecer. Quando terminamos nosso jogo, o jogador que controlava Tan, o Feiticeiro-Minotauro, um estrangeiro naquele mundo, tendo vindo de Sithicus, do cenário de Ravenloft, decide escrever um epílogo, aos olhos de Tan, sobre os eventos ocorridos e os próximos passos dos aventureiros. Ele conta o que ocorreu com alguns dos personagens que jogaram essa mesa: Ellion, o meio-elfo Guerreiro Mestre da Batalha Cavaleiro de Solamnia ; Guaxinim, a kender Trapaceira Arcana; Barendd, o anão Monge Combatente da Mão Espalmada; Guillerm, o anão Feiticeiro Alma Divina; Belo, o elfo Bardo do Colégio do Glamour; Thorne, o shadar-kai Guerreiro Arqueiro Arcano vindo do Sombral; e Kael'Dros, mais conhecido como Fred, um tiferino Bruxo com Pacto do Tomo, último a entrar no grupo após a trágica morte de Guillerm.

 

Guaxinim



Este grupo, de forma bastante caótica e pouco estratégica, conseguiu estragar os planos de importantes agentes do mal em Krynn. Mas, antes que vocês leiam o epílogo dessa longa história, cabe explicar algo: aos vencedores, a batata. Pois bem. Em um determinado momento da campanha, uma batata com aura mágica foi resgatada. E dentro dela uma alma estava presa, só conseguindo se comunicar com aquele que sintonizasse com ela. Apesar da "batata", de nome Valentim, ter dado valiosas informações ao grupo e ter conquistado a empatia de Guaxinim, ela não teve um final feliz, pois a alma de Valentim terminou presa a batata e, em determinado ponto, adormecida. Os personagens desconfiam que ela só será liberta se eles derrotarem uma poderosa bruxa, o que eles pretendem fazer, em algum momento, após o fim da Guerra da Lança.

 

Então vamos ao nosso Epílogo: O Sorriso do Minotauro.

 


Tan, na praia


O Sorriso do Minotauro

por Goblin Bard

 

               O minotauro tinha sentado nas pedras que, com a maré baixa, estavam expostas naquele pedaço de praia. Ao longe, sua aparência era a mais estranha que se podia imaginar, pois, apesar de ser um minotauro, sua ascendência dracônica o tinha dotado de poderes mágicos, que vieram acompanhados de pequenas escamas verdes que cobriam seu corpo na mesma proporção de seus pelos escuros de bovino, dando um aspecto reptiliano a ele.

 

               Seu nome era Tan, sem sobrenome ou outra alcunha e naquele momento ele tinha tirado o robe branco que sempre usava e estava apenas com sua velha tanga cobrindo sua nudez. Não tinha feito isso por calor ou vontade de nadar, mas porque estava trabalhando nas costas da vestimenta com uma pequena faca, cortando dois rasgos paralelos quase da altura da gola até a cintura.

 

               Próximo dali, um grupo de pescadores recolhia suas redes no fim de tarde e ancorava os barcos na praia. Alguns acenavam e cumprimentavam a criatura antes de partirem para a cidade como se fossem velhos amigos, indiferentes a natureza duplamente bizarra e monstruosa daquele ser.

 

               Sentado ali sozinho, o minotauro parou por um momento para admirar a descida do sol no horizonte. Ainda era cedo e demoraria algumas horas para anoitecer, mas naquele ângulo o sol parecia deixar um rastro de ouro e prata nas águas da baía, e ao redor dessa riqueza o tom azul intenso enchia os olhos verdes de Tan com uma dose de satisfação. Sem prestar atenção a si, o minotauro sequer estava ciente que não era apenas o mar que brilhava, mas ele próprio, suas próprias escamas esmeraldas cintilavam e intensos tons de jade como se um tesouro pirata tivesse sido deixado ali naquelas pedras. A cena durou até que ele vestiu o robe branco e surrado novamente, agora ainda mais lamentável pelos dois rasgões nas costas que ele mesmo tinha feito, mas que cobria muito do seu corpo verde. Depois disso, ele fechou os olhos, virando a imensa caraça em direção ao sol: naquele momento o minotauro estava sorrindo.

 

               Durante mais de um ano, desde que fugira da noite em que sua mãe tinha sido morta em Sithicus, ele tinha passado por muitas coisas. Várias vezes estivera às portas da morte, tinha morrido duas vezes, e uma vez tinha atravessado o véu e ouvido as sombras sussurrarem os horrores de sua derrota antes de ser arrancado da frieza da morte por seus amigos. Tinha visto muitos morrerem, tinha matado muitos. Tinha lutado incontáveis batalhas que deixaram marcas horríveis pelo seu corpo; cortes, perfurações, queimaduras e sinais ainda mais grotescos de poderes sinistros além da compreensão dos seres vivos.

 

               Por outro lado, ele aprendia com a sobrevivência e a cada batalha seus poderes mágicos cresciam, assim como o ódio pelo arauto de sua desgraça, o tirando do que o manteve acorrentado no labirinto e depois se mostrou o arquiteto da destruição de milhares nesse mundo: Soth.

 

               Também crescia, em maior medida ainda, sua admiração por seus companheiros recentes. Longe de Sithicus, do labirinto do Cavaleiro da Rosa Negra, ele tinha achado labirintos ainda mais complexos que não conseguia entender e, dessa vez, não queria escapar. Nada nos labirínticos sentimentos que possuía por aqueles que tantas vezes tinha lutado ao seu lado, principalmente sua pequena amiga kender, poderia ser resolvido. Ele intuitivamente sabia que seu senso de minotauro poderia achar a saída de qualquer lugar, menos de si. Mas Tan não se importava, o sol estava ótimo, a brisa marinha maravilhosa, e seus cascos afundaram ainda mais na areia molhada e quente. Ele continuava sorrindo.

 

               Pensar nos últimos acontecimentos deixava-o muito feliz e, por um momento, lembrou das últimas despedidas. Reviu o silencioso Ellion, partido como chegara, sem dizer uma palavra, sem nenhuma explicação; rumo a Palantas onde tinha sido convocado para “contar como derrotara Soth”. O sorriso do minotauro aumentou ainda mais, mostrando seus dentes chatos, mas poderosos, originalmente concebidos para rasgar a carne dos mortais, mas nunca usados para tal fim. E ele pensava: se os cavaleiros soubessem… Mas não importava, que acreditassem que um dentre eles tinha sido herói, pois precisariam de todo o incentivo que pudessem conseguir. E muitos cairiam antes do fim de uma guerra que estava apenas começando. Que Ellion fosse o portador de boas novas e um exemplo para a moral dos guerreiros. Todo recruta precisa de um herói para se inspirar...


 

Ellion, o Cavaleiro de Solamnia



               Então, por um momento, o sorriso sumiu, pois sua mente tinha parado na imagem dos mortos, os companheiros caídos no campo de batalha. Heróis, corrigiu-se mentalmente. Heróis caídos com honra no campo de batalha. Seu bom amigo Guillerm que, ao contrário dele, usava um robe escuro e que tantas vezes lutou ao seu lado. Suas magias destruidoras, derrubando dúzias de inimigos em um só golpe, suas tiradas sarcásticas e ofensivas, sua perversão bêbada e alegre nas tavernas. O minotauro ainda podia ouvir, na brisa, o último grito do anão, arrastado para o inferno, vítima de sua própria sede de poder. A grande cabeça bovina chacoalhou em silêncio uma negação… pobre idiota ambicioso...

 


Guillerm, o ambicioso


               Não tinha sido só ele: a grande cabeça baixou mais um pouco, ainda mais triste quando lembrou de Frederico. Ele tinha outro nome, mas o minotauro não se lembrava de qual era. Um nome bonito e estiloso de alguém que fora importante. Só que para Tan, ele era apenas o bom amigo Fred, um amaldiçoado em uma forma deformada de um gigante, obrigado por um demônio a trair o grupo, mas que no final se redimiu e pagou a traição com coragem e com uma ajuda fundamental no último combate. Ele morreu e a magia de ressurreição tinha falhado, pois, segundo Belo, a alma dele não queria voltar a esse mundo. O minotauro pensou: quem poderia culpá-lo…

 

Fred, cuja alma não quis retornar. Ou não pode.


               Pensar nesse ritual era pensar em Belo. Belo… Tan levantou a cabeça, abriu os olhos, observando a linha do horizonte. Em algum lugar além daquele oceano, ficava Silvanesti. Em algum lugar naquele reino, Belo continuava sua luta política para libertar seu povo de um grupo de tiranos. Pensar nele deixava Tan sorridente. O elfo, se é que poderia usar o gênero masculino para defini-lo, era como uma festa ambulante. Sempre cantando com uma voz suave, majestosa e capaz de rivalizar com os mais incríveis pássaros, uma voz capaz de vencer a morte, e regenerar os corpos, uma música divina e mágica ao mesmo tempo. Claro que o elfo tinha seu lado sombrio e suas estranhas práticas invasivas confundiam Tan, deixando-o constrangido algumas vezes, não pelo que ele sabia desses rituais, mas pela sensação de ser algo proibido e depravado, percebível (e condenável) pelo olhar escandalizado da kender.

 

               De qualquer forma, Belo era um bom amigo. Antes de partir, tinha agarrado Tan pelos chifres, obrigando o enorme minotauro a se abaixar até que o topo de sua cabeça, o espaço entre os dois chifres, estivesse na altura dos seus lábios. Então, ele o beijou ali, dizendo “ah! Meu tourinho, nós vamos nos encontrar de novo!”. Meu tourinho… se em uma taverna alguém chamasse Tan dessa forma, o minotauro partiria os dois braços e as duas pernas do engraçadinho e atiraria o que sobrasse pela janela. Mas Belo podia dizer isso, não havia nada que ele não pudesse fazer. Tan tinha a sensação de que o carismático elfo poderia realizar qualquer coisa, até torcer a vontade dos próprios deuses.

 

Belo, o bardo glamoroso


               Os deuses… Pensar neles arrastava a mente do minotauro em outra direção. Tan tinha lido, ainda no labirinto em Sithicus, sobre eles. E depois tinha esquecido o assunto, até Thorne aparecer. O estranho elfo sombrio chegara enviado por uma Deusa ainda mais sombria, a rainha dos corvos, no momento em que o grupo mais precisava de ajuda: contra monstruosos dragões mortos-vivos que enxameavam pelo céu. Então ele surgiu, o arqueiro mais mortal de todos os mundos, destruindo tudo no caminho, disparando flechas como se fossem guiadas pela própria mão do destino; um matador nato.

 

               De falar pouco, mas de fazer muito; esse era Thorne. Tan o tomou como amigo imediatamente quando perguntou o que ele tinha vindo fazer e a resposta foi: estou aqui para matar Soth. Era só isso que o minotauro precisava saber. Só que não era só isso, o arqueiro era cheio de recursos e inteligente como um predador, mostrando-se um dos aliados mais valiosos que o minotauro já tinha visto. Tan sabia que não teriam sobrevivido sem ele e certamente um dia, os feitos do arauto da Senhora dos Corvos irão encher páginas nas bibliotecas com suas lendas e templos nas cidades com devotos à sua Deusa.

 

Thorne, o arqueiro shadar-kai de poucas palavras


               O minotauro fechou os olhos de novo, levantando a cabeça, virando novamente a imensa cara bovina para o sol. Suas narinas dilataram sentindo o cheiro do sal marinho e ele estava sorrindo de novo. Pensar em bibliotecas o levava a pensar em Barendd, o monge anão que adorava livros, e pensar em Barendd o levava a pensar naquele outro monge amaldiçoado que Belo tinha devolvido as pernas e os braços. O pobre ancião tinha perdido os membros, vítimas de uma maldição de Soth, desfigurado pelas artes sinistras do cavaleiro. Não haveria nada a ser feito pelos meios normais, mas, por insistência de Barendd, Belo cantou pela regeneração do ancião. Aquela música impressionou Tan de tal forma que, ao pensar nela, os olhos do minotauro ainda se enchem de lágrimas. Ainda mais impressionante foi a alegria do velho com suas novas pernas e braços. Tudo cresceu de novo em questão de minutos, membros novos como de bebês, sem pelos, sem manchas senis, brancos como se nunca tivessem sido bronzeados. E então, o velho saltou da cama, levantando o pijama, e começou a dançar como uma criança, de pés descalços, enquanto Tan observava abismado com a extensão dos poderes da música do bardo! Música divina capaz até de retornar a alegria aos velhos.

 

Barendd, o monge puro e erudito

               Extensão dos poderes… sua mente seguiu em frente pelo ciclo lógico e então o sorriso do minotauro atingiu seu ápice quando visualizou o rosto sorridente de Guaxinim, sua amiga kender. Ela tinha conseguido todos os feitos mais incríveis do mundo. A pequena, em tamanho, mas gigantesca em grandeza, heroína tinha matado Soth, tinha salvado o mundo, tinha ressuscitado o minotauro duas vezes. Ela tinha feito tudo isso, e o mais importante para Tan, ela era a sua melhor amiga. Não importava que fossem estranhamente diferentes, de mundos diferentes, de raças diferentes, de formas de pensar e agir diferentes; imediatamente, quando ela o viu, adotou-o como seu amigo, ainda que naquele momento Tan fosse quase um monstro enlouquecido e ignorante. Nada importava para ela, o coração da pequena kender não possuía reservas, sendo capaz de tratar com respeito até as mais estranhas criaturas, conversar com vampiros e demonstrar piedade com os inimigos. Ela era a própria nobreza para Tan, a responsável por vestir o robe branco, símbolo da mágica usada para benefício do mundo.

 

               No dia a dia, é claro que estavam sempre discutindo e até brigando, mas isso pouco afetava a amizade dos dois, e o fato era que o minotauro sabia que não poderia fazer nada sem contar com o apoio de sua amiga. Aliás, era mais que isso, e mentalmente Tan recitou seu mantra secreto que ele nunca permitiria que ninguém soubesse: que os deuses me concedam um décimo da coragem de um kender. Era isso, nada era capaz de assustar sua amiga. Noventa centímetros de kender, em pé, frente a quinze metros de dragão, e ela nem piscaria, ainda que estivesse sozinha ali, apenas com uma espada nas mãos e a coragem de dez milhões de minotauros.

 

               No combate final, quando Soth recitava sua canção infernal, a torre da fortaleza vibrando, a escuridão se acentuando como se a luz do mundo fosse se apagando, os joelhos do minotauro tremendo, batendo como martelos descompassados, o frio da sepultura chamando no uivo do vento sinistro. Seus companheiros ali, também extremamente apavorados, quase a ponto de fugirem, e ele pode olhar para o lado e ver sua amiga. Ela permanecia lá: sozinha, em pé com seu pequeno arco na mão sem vacilar por um minuto, os olhos brilhantes de coragem, o rosto delicado concentrado na missão que tinha para fazer e as pequenas mãos apertando a madeira da arma pronta para disparar a primeira flecha, incapaz de conhecer a palavra “medo”. Era um orgulho para Tan contar com tal amizade e mais que isso, a coragem dela era a sua própria, pois se ela podia, então ele tinha o dever de a seguir até a vitória. E foi exatamente isso que eles fizeram, eles a seguiram até o final, até a vitória...


Guaxinim e o amuleto: A Ruína de Soth


               Enquanto Tan sorria sozinho, mergulhado em seus pensamentos, sentado em uma pedra em frente ao mar, a própria Guaxinim, como que chamada mentalmente pelo minotauro, o espreitava, aproximando-se, silenciosa, como só ela poderia ser. Durante os últimos tempos, ela tinha vigiado secretamente o minotauro cada vez mais, pois seu amigo estava cada vez mais sombrio depois que tinha sido morto uma vez, cada vez mais depressivo e cada vez mais furioso. E agora, que ele tinha morrido e voltado uma segunda vez, ela temia secretamente por ele, sempre preocupada de que ele fizesse alguma besteira, permanecendo próxima o suficiente caso fosse necessário impedi-lo de qualquer coisa.

 

               Porém, dessa vez, para a surpresa dela, o minotauro estava sorrindo. Sua cara bovina estava relaxada ao vento e sua bizarra expressão facial mostrava um estranho sorriso animalesco que ela achou muitíssimo engraçado com todos aqueles enormes dentes aparecendo. Era a primeira vez que via o minotauro francamente sorrindo, mostrando uma felicidade nele que até então ela não conhecia.

 

               Silenciosamente a Kender aproximou-se, seus pequenos pés suavemente se movendo pela areia sem fazer mais barulho que o vento. Subindo na pedra ao lado, ficando em pé para estar à altura do rosto do minotauro, com as mãos espalmadas segurando as bochechas, os olhos brilhando de alegria, aproveitando aquela cara de boi sorridente. Era verdadeiramente maravilhoso ver o minotauro sorrir depois de tanto tempo de tristeza e ela estava ali embebecida pela cena. Era um momento único de amizade e ela queria guardar cada pedaço dele na memória, cada detalhe, para depois compartilhar tudo com seus irmãos e tios e primos e toda a família dos Sova-brioches, compartilhar como só os kenders são capazes de fazer. Ela estava guardando na memória o mais valioso tesouro que tinha encontrado: o momento em que ela viu seu amigo minotauro sorrir pela primeira vez na vida.

 

               Nessa hora, Tan abriu os olhos e deu de cara com o rosto redondo e avermelhado pelo calor da pequena alegre Kender ao seu lado. Ele foi tomado de um susto constrangido e, em sua ânsia de afastar-se, pisou em uma pedra molhada, escorregando e caindo ruidosamente na areia fofa, molhando o robe branco agora matizado em tons de bege-areia, para alegria da kender. O minotauro então resmungou enquanto se levantava rapidamente: “Droga! Guaxinim, o que você está fazendo!!!”.

 

               Divertida com toda a cena, a pequena kender não podia deixar de alfinetar seu amigo: - Você estava sorrindo!

               - Não, eu não estava sorrindo, Guaxinim!

               - Você estava sorrindo que eu vi!

               - Não, eu não estava sorrindo!

               - Você estava sorrindo, seus dentes estavam à mostra!

               - Eu não estava sorrindo, eu estava engasgado com um pedaço de carne seca, sua kender xereta! E pare de enrolar e vamos embora, temos que partir ainda hoje!

 

               Dizendo isso, o minotauro virou-se furioso e seguiu rumo à cidade, batendo os cascos na areia enquanto a kender seguia atrás, saltitando e cantando suavemente: “você estava sorrindo, você estava sorrindo”. Tan seguia, aparentando estar furioso, enquanto, no fundo, sentia-se agradecido à kender pelo carinho que ela demonstrava por ele, uma verdadeira irmã que ele nunca tivera, mas que surgira no labirinto na forma dessa pequena heroína.

 

               Na praça central, o povo da cidade tinha se reunido para ver os heróis partirem. Thorne já estava montado em Brisa, sua dragonel, Barendd estava ajeitando-se em Orion, o dragonel do próprio minotauro, enquanto Guaxinim chegava para montar sanguenozoios, o dragonel que a adotou como cavaleira. Nesse momento, ela se virou e perguntou: e você, Tan, irá com quem?


Guaxinim se preparando para montar sanguenozoios

               O minotauro se concentrou um momento, crescendo enormes asas draconianas verdes das suas costas, nascendo em segundos da sua espinha, atravessando o robe nos rasgos que ele tinha acabado de fazer, apreciando seu mais novo poder mágico. A transformação tornara a aparência de Tan ainda mais draconiana e um tanto menos bovina. Visto naquela forma, ele parecia mais um meio-dragão verde que um minotauro. E então, ele respondeu “eu irei com minhas próprias asas”, e perguntou, “para onde Guaxinim”?

 

               - Primeiro vamos para Kendermore, e depois salvar Valentim da batata, depois Sithicus com você e destruir Soth novamente.

 

               Diante da menção da batata, Tan não pode deixar de soltar seu eterno resmungo de “você e essa maldita batata” que foi prontamente respondido com um mostrar de língua da kender. Antes que o minotauro pudesse fazer mais algum comentário, Guaxinim virou-se para frente e sussurrou “vamos sanguenozoios, para Kendermore, você vai conhecer minha casa”.

 

               O dragonel rugiu por um momento em um misto de grito de ave e réptil, esticou as asas que se abriram com um “flap” como uma vela e então as moveu com força, empurrando o ar para baixo, subindo cada vez mais, deixando uma nuvem de poeira ao redor. Ele foi seguido por Orion e por Brisa, e depois, pelo próprio minotauro, o último a decolar, seguindo com seu cajado de combate nas mãos e seu robe branco surrado sacolejando ao vento.

 

               O povo de Kalaman permaneceu ali acenando até que o grupo desaparecesse no horizonte. Ninguém disse nada, mas eles não se sentiam desamparados com a partida dos heróis, pois todos ali sabiam que, além da linha de visão, em algum lugar a caminho de Kendermore, a esperança voava a toda velocidade.

 

 


 

 

FINALIZANDO O TEXTO

 

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Ellion partindo sem se despedir

 

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